sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A vida sem limites

Eu não assistiria Hell se não fosse por insistência dele. Eu achava que tudo o que demonstra a banalidade juvenil é patético demais. Mas daí num domingo desses, eu assisti. E vi que, além de incrédulo, o universo formado pela alta sociedade/jovens/drogas é muito mais complexo do que se imagina.

Pra começar, a realidade retratada pelo filme – e que existe em todo canto do mundo, até mesmo aqui na terra do caqui – parece ser recheada de pessoas alienadas, cujos valores não são palpáveis nem imagináveis. O retrato da riquíssima juventude europeia se degradando com cocaína, álcool e sexo soa como um submundo, um capítulo à parte, mas não é tão irreal assim.

De qualquer forma, é difícil analisar os motivos que levam o ser humano a situações degradantes, a tomar atitudes impensadas, a desvalorizar a si próprio e também tudo o que há ao seu redor.

No fundo parece que quanto mais dinheiro se ganha, mais se perde a noção de como gastar. Menos se valoriza o corpo e a mente, menos se chega próximo a um equilíbrio. Mas isso não significa que a verdade absoluta só exista nos redutos onde não há dinheiro. Significa apenas que o excesso dele te eleva a situações diferentes.

Um dia um amigo me disse que só se vive uma vez. Por isso, faria questão de passar por esse mundo pra viver de tudo. Sem qualquer discurso de auto-preservação, ele era do tipo que embarcava em qualquer roubada, não tinha medo porque não tinha nada a perder. Vai ver é isso. Só sentem medo aqueles que temem perder algo, nem que seja a vida.






O tripé sexo, drogas e rock and roll sempre faz mais sentido quando a combinação pode ser potencializada pelo dinheiro. Jovens menos favorecidos, digamos, também gostam das três coisas, mas nem sempre têm acesso a doses cavalares como os filhinhos de papai por aí afora. É exatamente isso que Hell – tanto o livro quanto o filme – mostra. A única diferença é que é uma visão muito particular das três coisas, sobretudo pelo fato de se passar na França.

Famílias podres de ricas, de um mundo que só pertence a elas mesmas, são despidas de uma forma bastante peculiar, sobretudo no livro. A personagem principal, que dá nome a ambos, consegue descrever em detalhes as situações mais absurdas que os jovens endinheirados podem viver. Outro ponto que salta aos olhos é o desprezo de Hell por tudo aquilo que ela viveu e aproveitou.

A vida das personagens não é das mais chatas, dependendo do ponto de vista. Ninguém trabalha, nem muito menos tem outras responsabilidades. O único objetivo é curtir a vida, mas aproveitar ao máximo, sempre com excessos. Quanto mais, melhor, não importa do que seja.

Para qualquer pessoa que tenha um filho – ou filha – a história de Hell ativa as antenas da preocupação com o futuro. Impossível não se perguntar os motivos que levaram àquele tipo de vida e tentar descobrir formas para que não aconteça o mesmo com o rebento.

Julgar a vida dos outros sempre é complicado, mas dizer que aquilo é correto ou saudável se torna uma sandice. Talvez seja mais um exemplo de que, qualquer coisa em excesso, não faz muito bem para ninguém.

O texto ficou mais conservador do que eu gostaria, mas é impossível não ser influenciado pela personagem. Acho que o tom usado aqui é culpa dela, apesar de ter sido feito pelas minhas mãos.

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