segunda-feira, 9 de março de 2009

Menina de nove anos é mãe de gêmeos. Se dependesse da Igreja Católica, este fato existiria.








Uma menina de nove anos estuprada pelo padrasto e grávida de gêmeos.

Uma gravidez de risco e um abordo.

Um arcebispo excomungando todos os familiares da garota e médicos envolvidos no aborto.

Não sei ainda quais dos fatos acima é mais inconcebível. Mas para mim, continua sendo a intolerância religiosa.

Não sou a melhor pessoa para discursar sobre o assunto, até porque pouco sei sobre os preceitos da Igreja Católica e o que fundamenta tudo isso, mas acredito que a valorização da vida pregada pelos religiosos não pode sobrepor fatos tão relevantes.

A intolerância religiosa não permite o preservativo, o aborto e o sexo indiscriminado. Mas não é tão severa quando estão em questão os casos de pedofilia que envolvem sacerdotes. Ora, não deveria ser de função da Igreja zelar pela vida humana? Ou simplesmente adota-se um discurso de que o nascimento não pode ser interrompido apenas por ideologia?

Pode parecer retrógrado meu pensamento, mas ainda acredito que é preciso poupar vidas que certamente serão desgraçadas. Mais grave do que cometer um aborto é ter o filho e abandoná-lo numa lata de lixo, num rio...

Enfim. O assunto se estende. O fato é que a menina de 9 anos se enquadrava duplamente nos critérios em que a Justiça permite a realização do aborto. Tinha uma gravidez com risco de morte e fora estuprada. Não há muito o que se discutir.

Mas o mais lamentável de tudo isso, se é que existe algo mais abominável do que o estupro de crianças, é que em nenhum momento ouvi dizer que as ‘punições’ da Igreja seriam estendidas para o padrasto, que confessou o abuso e está preso. Não foi excomungado por ter causado tudo isso à enteada e ainda tem sua vaga garantida no céu. Amém.

Mais uma vez a Igreja Católica dá provas do quanto o seu pensamento pode ser prejudicial à saúde de fiéis seguidores. Ao excomungar o médico e outras pessoas que participaram do aborto de gêmeos da menina de nove anos estuprada pelo padrasto, o bispo de Olinda mostrou a verdadeira face da ignorância retrógrada que ainda impera entre muitos líderes católicos. Para o religioso, o correto seria deixar a menina desenvolver a gestação até o fim e correr o risco de morrer ao dar à luz para dois bebês. Ele diz que cometeram um assassinato ao interromper a gravidez, alegando que os fins justificam os meios.

Enfim, a história é polêmica e cada um forma a opinião que bem entender, de acordo com seus valores – não só religiosos. Em toda a minha ignorância, também formulo os meus.

Para mim, a situação é absurda, em todos os aspectos. O crime é bárbaro e os desdobramentos idem, com exceção do aborto – melhor decisão de toda esta história. Com toda a polêmica criada em torno do assunto, pouco se falou da criança abusada até agora. A impressão é de que ninguém liga para a condição dela, de como ficará a sua sexualidade a partir de agora e mais uma lista de coisas que envolvem diretamente a sua vida.

Não que ser excomungado da Igreja mude a vida de alguém, mas o bispo esqueceu de botar o padrasto da menina para fora da religião também. Ao não tomar esta atitude, o religioso dá a entender que o monstro autor do crime pode ser perdoado e quem “resolveu” a situação e acabou com uma parte do sofrimento merece a punição divina. Coisas da Igreja.

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