terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Fazer ou fazer. Eis a questão!!!




Certa vez li uma entrevista do Ariano Suassuna cuja principal declaração era a de que jamais fazia concessões. Ele não especificou se era em relação a sua vida ou obra, mas a frase é suficientemente clara para qualquer pessoa.

Desde então sempre fiquei com isso na cabeça. Ceder ou escolher fazer tal coisa sempre foram situações complicadas. As pessoas o taxam de irredutível, egoísta e mais uma penca de outros nomes. Não é legal, mas, por outro lado, sempre tive em mente que isso é uma questão de personalidade.

Também sempre questionei o “não fazer” alguma coisa. Isso não existe, a negação na ação. Você sempre vai escolher algo, ainda que seja fazer nada. Por isso, concessões ficam difíceis de classificar. Considerando que você fará alguma coisa, não existe a concessão, cujo significado estaria calcado na “não ação”.

A conversa é meio de louco mais funciona exatamente assim na minha vida. E acredito que na de muitas pessoas também. O fato de fazer isso ou aquilo – mesmo quando não concordo – não ameniza a situação moral ou de caráter. Se fazermos algo que vai contra nossos princípios, é importante saber os motivos e ponderar se realmente vale a pena.

Confesso que no meu caso, sobretudo ultimamente, não tem valido a pena. Apesar de estar vivendo, o peso de algumas decisões são muito maiores do que a gente pensa. Arrependimentos não, mas carregar o “ter feito” determinada coisa, na maioria das vezes, incomoda muito mais do que pensar em quais concessões devo ou não fazer.

Ceder é um verbo pouco conjugado pelo ser humano, que é por natureza egoísta. Abrir mão, conceder e todos os outros sinônimos que traduzam o fato de ser transigente só são reais em casos muito específicos.

Conceder o lugar no ônibus a uma senhora idosa é fácil para qualquer um, mas abrir mão dos seus valores, dos ideais e das coisas que são importantes já não é tão simples assim.

Por isso é difícil aceitar a ideia de que, às vezes, é preciso passar por cima de você mesmo por algo que considere importante. É como fazer um trabalho que não lhe agrada porque, de alguma forma, você tem de pagar as contas no final do mês. Ou então ir a um culto evangélico porque seu namorado é religioso, sei lá.

Não que você seja obrigado a trabalhar em algo que não concorda ou aderir à religião a contragosto só porque gosta de alguém. Não é isso. A vida é feita de escolhas e você pode escolher um trampo que você se identifique ou um namorado que não te obrigue a fazer tantas concessões, mas às vezes você não vê outra alternativa a não ser simplesmente abrir mão.

Daí você abre mão aos poucos, um dedo de cada vez, ainda tentando se manter convicto daquilo que você realmente acredita. Mas quando vê, já abriu por completo, já colhe os frutos infelizes de fazer algo que não quer e o pior de tudo: não tem nem o direito de reclamar, porque quem concedeu foi você.

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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Dia de . . . . . .

Toda data comemorativa tem um viés comercial, seja lá qual for o tipo da comemoração. O “dia tal” só existe para que as pessoas possam ser lembradas com presentes durante 24 horas. Depois disso, a vida volta ao normal e só um ano depois é que o profissional ou mãe/namorados/avós/crianças serão notados novamente. No meio tempo é claro, existem outros “dias” para movimentar o comércio.

Não sei se isso é uma invenção capitalista ou trata-se apenas de uma simples homenagem a alguém. Se foi apropriado pelos capitalistas é outra história, mas tudo acaba caindo na questão do dinheiro, portanto, não é novidade alguma.

Independentemente da origem, todas as datas comemorativas têm um “quê” de hipocrisia. Naquele dia específico, a pessoa é especial somente porque no calendário aponta que é isso. Ela não fez, nem deixou de fazer, nada demais para merecer tais homenagens. É simplesmente uma data instituída e, por isso, os mais próximos precisam dar presentes ou ligar, mesmo que façam isso uma vez a cada 365 dias.

Particularmente nunca gostei de datas e não dou muita atenção a elas. Sei que magoa algumas pessoas, mas infelizmente prefiro ser coerente a hipócrita neste caso. Se gosto de alguém, vou querer telefonar ou manter contato sempre, não só quando for aniversário ou dia “d” alguma coisa.

Enfim, acabar com as datas é impossível, mas pelo menos posso manter o meu desprezo completo por algumas, por mais difícil que isso seja de entender para aqueles que dão importância demais a estas coisas.


É estranho como as coisas mudam nas datas comemorativas. É uma coisa tão simbólica, que não deveria mudar em nada, mas de repente parece que no Dia das Mães, as mães se tornam mais mães ou que os namorados se tornam mais namorados no dia deles.

Na realidade, o que acontece é que todo mundo deixa pra demonstrar seu afeto na data especial. É como comemorar um aniversário de casamento com champanhe e caviar e depois reclamar o restante do ano de comer arroz com feijão. Se a convivência não é boa, pra que então comemorar?

Outra coisa é desejar tudo de bom e melhor, saúde e amor somente no dia do aniversário da pessoa. Tudo bem, talvez você até deseje tudo aquilo pra ela o ano inteiro, mas é somente na data de aniversário dela que você vai verbalizar. E também... por que falar “Parabéns” pra uma pessoa que talvez nem tenha algo para ser parabenizada, a não ser pelo fato de ter completado mais um ano de vida?

Tirando essa visão amarga das coisas, ainda é legal comemorar datas especiais. Ter uma surpresa agradável, receber um abraço carinhoso, ver pessoas que estão longe, ver que os outros se importam com você, de alguma forma, mesmo que instantânea.

Sei que mais importante que estar presente nessas datas felizes, é essencial que se esteja presente nas horas ruins também, daí vem o verdadeiro valor das coisas.

Mas visto que as pessoas mal têm tempo pra elas mesmas, o ideal é que não deixem passar em branco as datas especiais. Pode ser que tenha alguém esperando ansiosamente por uma lembrança sua.

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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A vida sem limites

Eu não assistiria Hell se não fosse por insistência dele. Eu achava que tudo o que demonstra a banalidade juvenil é patético demais. Mas daí num domingo desses, eu assisti. E vi que, além de incrédulo, o universo formado pela alta sociedade/jovens/drogas é muito mais complexo do que se imagina.

Pra começar, a realidade retratada pelo filme – e que existe em todo canto do mundo, até mesmo aqui na terra do caqui – parece ser recheada de pessoas alienadas, cujos valores não são palpáveis nem imagináveis. O retrato da riquíssima juventude europeia se degradando com cocaína, álcool e sexo soa como um submundo, um capítulo à parte, mas não é tão irreal assim.

De qualquer forma, é difícil analisar os motivos que levam o ser humano a situações degradantes, a tomar atitudes impensadas, a desvalorizar a si próprio e também tudo o que há ao seu redor.

No fundo parece que quanto mais dinheiro se ganha, mais se perde a noção de como gastar. Menos se valoriza o corpo e a mente, menos se chega próximo a um equilíbrio. Mas isso não significa que a verdade absoluta só exista nos redutos onde não há dinheiro. Significa apenas que o excesso dele te eleva a situações diferentes.

Um dia um amigo me disse que só se vive uma vez. Por isso, faria questão de passar por esse mundo pra viver de tudo. Sem qualquer discurso de auto-preservação, ele era do tipo que embarcava em qualquer roubada, não tinha medo porque não tinha nada a perder. Vai ver é isso. Só sentem medo aqueles que temem perder algo, nem que seja a vida.






O tripé sexo, drogas e rock and roll sempre faz mais sentido quando a combinação pode ser potencializada pelo dinheiro. Jovens menos favorecidos, digamos, também gostam das três coisas, mas nem sempre têm acesso a doses cavalares como os filhinhos de papai por aí afora. É exatamente isso que Hell – tanto o livro quanto o filme – mostra. A única diferença é que é uma visão muito particular das três coisas, sobretudo pelo fato de se passar na França.

Famílias podres de ricas, de um mundo que só pertence a elas mesmas, são despidas de uma forma bastante peculiar, sobretudo no livro. A personagem principal, que dá nome a ambos, consegue descrever em detalhes as situações mais absurdas que os jovens endinheirados podem viver. Outro ponto que salta aos olhos é o desprezo de Hell por tudo aquilo que ela viveu e aproveitou.

A vida das personagens não é das mais chatas, dependendo do ponto de vista. Ninguém trabalha, nem muito menos tem outras responsabilidades. O único objetivo é curtir a vida, mas aproveitar ao máximo, sempre com excessos. Quanto mais, melhor, não importa do que seja.

Para qualquer pessoa que tenha um filho – ou filha – a história de Hell ativa as antenas da preocupação com o futuro. Impossível não se perguntar os motivos que levaram àquele tipo de vida e tentar descobrir formas para que não aconteça o mesmo com o rebento.

Julgar a vida dos outros sempre é complicado, mas dizer que aquilo é correto ou saudável se torna uma sandice. Talvez seja mais um exemplo de que, qualquer coisa em excesso, não faz muito bem para ninguém.

O texto ficou mais conservador do que eu gostaria, mas é impossível não ser influenciado pela personagem. Acho que o tom usado aqui é culpa dela, apesar de ter sido feito pelas minhas mãos.

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